domingo, 18 de janeiro de 2015

Material de Apoio - Arquearia II: Construindo um arco


Arquearia II
- Construindo um arco -

Depois de sabermos a história, as partes e tipos de arcos e flechas, vamos avançar para a construção dele, o segundo passo natural antes de começarmos a lançar flechas como loucos. Embora seja um parte bem mais técnica e sem grande glamour, em cada canto podemos aprender coisas novas que podem servir em algum enredo de campanha, algum conto, enfim, em qualquer coisa que pensemos e precisemos usar.

Poderíamos apresentar a forma de fazer qualquer arco, mas o que mais chama a atenção para os rpgístas é o arco longo clássico inglês. Para começar ele era construído a partir de madeira de teixo (taxus baccata), mas também era feito a partir de freixo, carvalho e carya. O ponto principal, mais importante até que o tipo de madeira, era a localização da madeira extraída para a produção do arco. Ela poderia ser retirada de árvores de qualquer lugar que poderia produzir um arco de qualidade, mas o ideal para um arco com resistência máxima era que fosse de madeiras oriundas de áreas mais altas e com solo não tratado. E isso tem uma explicação.

Quem já viu o tronco de uma árvore cortado na perpendicular já deve ter percebido que ele é todo anelado. Esses anéis demonstram as condições climáticas que a árvores vivenciou enquanto crescia. Eles são tão interessantes e precisos que uma técnica de datação foi desenvolvida através desse crescimento – a dendrologia. Esse crescimento é mais visível, com anéis mais espessos, de forma diretamente proporcional ao clima temperado. Em contra partida quanto mais alto subimos em uma montanha, em regiões mais afastadas da linha do Equador, menos variações térmicas e climáticas temos e como estamos pensando em Europa, isso é ainda mais significativo. Com menor variação climática temos anéis menos espessos, muito mais próximos um do outro e é justamente isso que acaba deixando a madeira muito mais resistente, densa e resiliente para ser dobrada.



Tendo escolhido a madeira e a extraído vamos para a segunda etapa que é moldar o arco. Com ferramentas simples e um trabalho metódico vamos desbastando lentamente as camadas externas da madeira. Da mesma forma que nos preocupamos com a densidade e resistência da madeira no sentido perpendicular, também o devemos ao longo da extensão do arco e para isso temos que cuidar de sua estrutura no momento de desbastar a madeira. Uma coisa que deve ser salientada é que existe também uma forma e posição, no tronco, para se extrair a madeira de um arco. Não basta ser apenas “madeira” para produzirmos um bom arco. Ela deve ter sido cortada pegando desde a porção mais externa do tronco (a casca) até uma parte da porção interna (não necessariamente o centro). Por uma questão de lógica a porção mais externa é a mais resistente e firme, enquanto a porção mais interna é a porção mais flexível. Mas não se engane, pois isso não tem relação direta com a noção de quebradiço. De qualquer forma o ideal é que o ao fabricarmos um arco tenhamos o cuidado de prepararmos a madeira de forma a mantermos essas duas porções, pois elas trabalharam juntas mesclando resistência e flexibilidade.

Assim vamos extrair a porção mais externa e bruta da casca e depois, sem danifica a passagem entre casca e a primeira porção do caule, vamos raspar suavemente o resto do exterior. Qualquer dano aqui será decisivo para a resistência do arco. Ele deve ser primeiramente raspado deixando-o o mais uniforme possível e depois lixado.



Muitos enganam-se em achar que o arco possui sua estrutura arredondada. Muito pelo contrário, podemos dizer que o bom arco é achatado nas posições certas e arredondado nas posições necessárias. De qualquer forma, a estrutura bruta dele e quadrilátera. Nesta estrutura é desenhada a forma que ele terá e depois, com muita calma, é realizado um trabalho de desbaste tentando ao máximo chegar à forma aproximada do desenho. Com a forma bruta aproximada é chegada a hora de lixá-lo moldando-o calmamente. Esta é a parte mais demorada pois nenhuma protuberância deve permanecer para um bom manuseio do arco.



Depois de horas de trabalho metódico a forma bruta do arco está pronta. Esta segunda etapa começa com a preparação para a colocação a corda levando em conta o tipo de corda que usaremos. Como a grande maioria dos arcos longos europeus, ingleses principalmente, usavam a corda trançada na forma reversa-torcida (leiam a postagem anterior), em ambas as extremidades do arco temos que preparar ranhuras profundas para sua fixação. Elas devem ser feitas usando lixa e não uma serra para manter a integridade estrutural do arco e não corrermos o risco de provocar rachaduras que vem à propiciar uma quebra. Essas ranhuras são feitas na diagonal em sentido de fora para o centro.

O primeiro teste para colocação e flexibilidade do arco é feita com uma colocação provisória da corda. Com a estrutura comprovadamente aprovada, começamos a fase dos detalhes na estrutura do arco. O primeiro elemento, e muito importante, é o recuo para depósito da flecha para o disparo. Logo em seguida devemos aprimorar o local onde agarramos firmemente o arco.



Com isso finalizado devemos passar ao processo de colocação da corda. O importante de ser percebido é que o arco deve ter a corda colocada com sua estrutura tensionada, o que significa que o arco ficará em posição levemente curva. Como já mostramos na postagem anterior, a corda trançada de forma reversa-torcida não teria a necessidade de estar em permanente tensão para manter sua estrutura, mas isso é importante para o arco em si.



Pronto, você já tem em mãos um arco. Agora só falta começar a disparar com ele na próxima postagem!

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